segunda-feira, 3 de junho de 2013

Nem a chuva...


 
 
"Não era possível que aquilo ainda ali estivesse, depois de tanto tempo a chover.

A mancha persistia como se quisesse dificultar o seu esquecimento junto dos responsáveis.
 
Como se pretendesse que quem ali passasse e não soubesse de nada, ficasse pelo menos a pensar qual seria a circunstância que a criara.
Podia parar de chover, mas nem o sol que pudesse aparecer, nem os passos descuidados de quem por ali passasse a iriam desfazer.

O único consolo era que apenas os intervenientes iriam ficar a saber porque estava ali aquela mancha, porque as centenas de outros que ali passassem apenas sabiam que estava ali uma mancha.

Francisco franziu a testa, apertando os olhos, como se a visão estivesse a ficar desfocada de tanto fixar o ponto manchado no chão. A visão não estava desfocada, ele estava apenas preocupado com o que Alice iria dizer quando ele lhe contasse.

Tinha quase a certeza de que ela não iria entender.

***

A chuva parara de facto, mas o desconforto que ela provoca quando nos deixa molhados, atingira Francisco no seu interior mais profundo e nem o livro dobrado que tinha no fundo do bolso lhe trazia consolo.

Francisco enfiou as mãos nos bolsos e encolheu os ombros em desalento. Não podia fazer nada. Tudo o que fizera para não chegar àquela situação não resultara e agora de nada lhe adiantava lamentar-se.

Era o seu legado, pensou. Tinha tanto para fazer, tão pouco feito e sem ânimo para seguir em frente."
 
Sob o Sol do Meio-Dia

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