quinta-feira, 2 de maio de 2013

Solidão

"Naquelas alturas em que à espera de sermos atendidos em uma repartição pública, ou numa fila para o transporte publico, ou num café a fazer tempo para ir a algum lugar, um dia ouvi uma mulher dizer a outra, uma amiga por certo. Pelo menos uma confidente.
- Quando fiz cinquenta anos, dei por mim sem ter feito nada do que queria na minha vida!
A forma dorida como foi dito, aguçou-me a curiosidade e nem o mau aspeto que era estar a ouvir conversa alheia, ma fez alhear da mesma e continuei à escuta.
- Já vivi mais de metade da minha vida, se considerar que vou viver mais uns vinte ou trinta anos e não fiz nada!
A outra disse qualquer coisa como que a querer contradizer ou a dar consolo, a que não dei muita importância e a mulher continuou:
- Eu sei que há sempre tempo, temos sempre tempo de retomar o caminho que uma vez iniciámos, ou até um novo...
A pausa deu-me a entender que a mulher sorria. Senti-me aliviada. Afinal o assunto não seria muito mau. Pensei eu!
Ouvi a outra dizer a palavra filhos e franzi a  testa. Em alguns casos são os filhos que seguram as pessoas, que anima as vidas mais descoloridas e que nos levam a mudar de rumo. 
E a mulher continuou:
- Não cortaria do meu passado os momentos em que eles nasceram, mas cortava todos os outros que se seguiram. Gostava de puder mudar tudo o que sucedeu depois...
A outra comentou qualquer coisa sobre filhos crescidos e a mulher respondeu:
- São crescidos, mas não entendem o que eu sinto, nunca lhes disse o que gostava mesmo de fazer, o marido não percebe a falta que me fazem as coisas que eu fazia e eu sinto-me sozinha sem ter quem me entenda. Se começar agora a fazer o que gosto, não vou ter ninguém do meu lado...
O período de espera chegou ao fim e a duas mulheres afastaram-se e eu deixei de as ouvir.
As palavras daquela mulher tocaram-me embora não soubesse do que ela estava a falar.
Há pessoas que seguem os seus próprios caminhos e lutam pelos seus ideais, algumas até à morte.
Mas nunca estão sós, pois não? Há sempre alguém que segue lado a lado, que pensa da mesma forma."

Depois de ter lido este resumo de um pequeno conto que alguém escreveu e a que tive acesso, concluo:

Não são as dificuldades que nos travam, é a falta de companhia em alguns momentos.

É por isso que as revoluções são feitas de várias pessoas e não de uma apenas.
 
É por isso que as manifestações têm mais força se tiveram mais manifestantes.
 
É por isso que as salas de aulas são compostas por vários alunos.

É por isso que no ciclismo é tão importante o trabalho de equipa, para o campeão alcançar a meta.
 
É por isso, que a igreja não aconselha casamentos entre pessoas de credos diferentes.
 
Há de haver uma altura em que para se seguirem as nossas convicções, vamos precisar de uma mão na nossa, não importa o quão empenhados estejamos.
 
 

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